quinta-feira, 17 de abril de 2008

Um mundo novo em folha

Era uma folha de papel em branco. Fazia muitos planos para seu futuro, como a maioria das folhas de papel em branco que havia no pacote. Em seus sonhos mais felizes, planejava para si uma vida de serventia educativa. "Afinal", pensava a folha, "o conhecimento é o bem mais importante para qualquer ser". Por isso, em sua lista imaginária de sonhos, via a si mesma numa escola, como instrumento de aprendizado de inúmeras crianças, ou, então, no Ministério da Educação, e nesse sonho toda a sua superfície era recoberta de projetos educacionais para a população carente de saber.
A pequena folha acreditava no futuro. Até chorava de orgulho antecipado ao se imaginar como página de um livro, podendo difundir através de palavras o conhecimento. E então, queria ser reciclada e reutilizada diversas vezes. Um dia, estava presa em seus devaneios, dentro do pacote com outras folhas de papel em branco. Um menino se aproximou. Abriu o pacote e puxou para si a pensativa folha. Finalmente, pensou ela, poderei ser útil à educação dessa criança! O garoto prosseguiu, realizando dobraduras na outrora lisa folha, que não compreendia o que se passava em seu corpo. Num instante, transformou-se em um avião de papel, que realizava manobras de guerra nas brincadeiras "bélicas" infantis.
No fim da tarde, foi esquecida ao chão e logo surgiram mãos para amassá-la e jogá-la no lixo da cozinha, junto com os restos de alimentos desperdiçados. Em seu exílio, chorou frustrada e descobriu que o resto do feijão do almoço ao seu lado sonhava em acabar com a fome do mundo.




Ananda Araújo Lima Costa,