segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A ilha

Um velho avião cortava os céus e lá em baixo o ria Araguaia.
Seco, aparecia salpicado de ilhotas.
De repente, a pressão do óleo começou a baixar e o piloto resolveu pousar no primeiro lugar que aparecesse e avistou uma ilha de tamanho considerável, imponente, que sobrepujava todas as outras. Era o lugar ideal para um pouso.
O piloto conseguiu pousar e logo consertou o avião, mas antes de reiniciar a viagem, resolver examinar aquele belo lugar, visível apenas na época de seca do rio.
Finalmente o piloto decolou, levando consigo, dez pedrinhas escolhida a dedo entre as milhares que cobriam a ilha.
Elas seriam uma recordação daquele lugar fabuloso e também um excelente presente para sua filhinha.

O tempo passou e a ilha ficou esquecida, até que um famoso joalheiro, em visita ao piloto, teve sua atenção despertada pelas pedras que serviam de jogo para a menina.
Ao saber da origem delas, informou: “Pois saibas que estas pedras são preciosas!” E separando uma menor, preta e brilhante, disse: “Isto é satélite de diamante; sua filha brinca com uma autêntica fortuna”!
Nem é preciso dizer que, a partir de então, o piloto foi o mais constante naquela rota; tudo o que ele mais queria era reencontrar sua ilha. Que ironia! O destino havia lhe colocado nas mãos uma fortuna imensa; talvez tenha sido o homem mais rico da Terra naquele quarto de hora em que permaneceu na ilha. Mas aquele tesouro imenso – e a sua ilha – existiam agora apenas na imaginação. O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar e nunca mais foi possível localiza-lo.



Todos nós – como aquele piloto – encontraremos, se já não encontramos, uma ilha no vôo de nossas vidas. Ela conterá também um rico garimpo, o garimpo do amor, da amizade, do coleguismo, e talvez seja mais preciosa do que a ilha encontrada no Araguaia. Como aquele piloto, pousaremos despreocupados, conheceremos a ilha, que poderá ter um nome doce de uma mulher (ou homem), ou poderá denominar-se juventude, ou talvez seja mesmo uma ilha perdida nas praias do noroeste. Mas, se a ilusão e a ânsia por sensações novas nos fizerem decolar, sem ao menos procurarmos guardar o local onde estivemos ou deixar nele uma placa com os dizeres: “ESTA ILHA É MINHA”, então levaremos somente algumas pedras preciosas, sob a forma de recordações de um beijo, de um carinho, de um mar verde e do vento apagando na areia os nomes escritos num coração. E, quando um joalheiro famoso, conhecido como O SENHOR DO TEMPO, nos disser que perdemos um tesouro, voltaremos atrás como aquele piloto. Mas será tarde, porque como o Araguaia, o passado terá sepultado a nossa "ilha". Ficarão apenas, como lembranças, algumas pedras: a saudade de um nome, de um carinho, de um dia ...


Como será sua vida daqui para frente?

Nenhum comentário: